domingo, 16 de maio de 2010

Um dia com o Papa

Como já escrevi por aqui antes, não tinha qualquer tipo de afectividade com o Papa Bento XVI. Ainda não tinha despertado grande apreso por ele. Contudo, não deixava de ser o sucessor de Pedro na Terra e como católico que sou, o respeito pela sua figura nunca foi posta em causa, nem o cumprimento da sua missão.

O Papa vir a Lisboa e não o ver, era exactamente a mesma coisa, que ir a Roma e não o ver. Oportunidade, não direi única, mas, é daqueles momentos que não se podem\devem perder. Com este principio e não tendo direito a tolerância de ponto, tirei o dia. Não me contentava ir só para o Terreiro do Paço, para o meio da multidão, sem ter a certeza de o conseguir ver. Comecei o dia no Saldanha, colocando-me num ponto estratégico onde sabia que o podia ver à sua passagem e sem ter o infortúnio dele olhar para o outro lado da estrada. Assim aconteceu… Passou e acenou para o grupo onde eu estava. Não digo que vi o branco dos seus olhos, até porque à velocidade em que seguia o Papamóvel assim não permitia, mas vi-o muito bem. Tinha valido a pena apanhar com as gotas de chuva, alternadas com os raios de Sol. Tempo bom para constipações, o que não se veio a verificar.

Depois de almoço, mais cedo do que é costume e bem almoçado, porque o dia ia ser longo, meti-me a caminho do Terreiro do Paço. Ainda do Saldanha e a pé – uma espécie de aquecimento para o que as pernas iam enfrentar. Quem andou por Lisboa, neste dia, pode ver que não era um dia normal. Não, por grande parte das pessoas não ter ido trabalhar, nem por não haver trânsito. Havia, sentia-se uma alegria, naqueles que partilhavam o mesmo espírito. Saldanha, Marques de Pombal, Avenida da Liberdade, Baixa Lisboeta, eram locais cheio de jovens que se reuniram sob o movimento “Eu Acredito” e munidos de instrumentos musicais cantavam e alegravam uma cidade que estava em festa.

Consegui arranjar um bom lugar – em pé como é óbvio, mas de frente para o altar e onde a vista ainda conseguia enxergar as coisas. Os pormenores viam-se pelos ecrãs gigantes. O ambiente foi-se compondo e o recinto transbordou de gente. Apesar das horas passadas em pé, ou sentadas no chão e sob um Sol que aquecia bem, não ouvi ninguém se queixar. As pessoas sabiam ao que iam e o esforço, a dor, o sofrimento de alguns, era compensado pelo momento que se ia assistir. Entre as pessoas só se via alegria, sorrisos na cara e Fé. Sentia-se a Fé nas almas presentes. No recinto havia todo o tipo de pessoas, desde crianças até idosos, desde pobres até aos mais endinheirados. Mas uma pessoa, me ficou na mente. Um jovem que devia ou parecia ter a minha idade. Um jovem que se notava bem ser toxicodependente e que não estava no seu estado natural. Nunca faltou ao respeito a ninguém e até perguntava às pessoas à sua volta se podia fumar. Mal conseguia abrir os olhos, mas também ele estava no recinto pela mesma causa – orar com Bento XVI. Acompanhou a missa, como muitos não acompanharam. Quem sabe não estava ali, à procura de uma solução para a sua vida, para o seu problema. Assim tenha acontecido.

Da missa realço três momentos. O primeiro foi o discurso de D. José Policarpo. Um belo discurso. Falou da história do Cristianismo em Portugal e da chegada dos emigrantes com religiões e credos diferentes ao nosso país. A frase que me ficou na memória foi “A Igreja Católica não tira o lugar a ninguém”. O que diz muito sobre a maneira da Igreja Católica estar na sociedade.
O segundo momento foi a homilia de Bento XVI. Realçou o lugar onde estávamos e o papel dos portugueses que dali partiram para passar a palavra de Deus. Associou aos dias de hoje. Pediu sobretudo aos jovens para continuar a missão que nossos antepassados começaram. Com base nas últimas notícias, que têm assombrado o seu Pontificado, mas sem nunca as referir, deixou ainda a mensagem “ Nada derrubara a Igreja Católica” (sobre este assunto já escrevi antes).
O terceiro momento, foi o silêncio. O silêncio feito durante a oração. O respeito que se sentiu, naquele espaço foi único, comovente e “brutal” ao mesmo tempo. A Paz do Mundo estava ali. Por instantes, todos os problemas foram esquecidos. Aquela energia colectiva, que cada um absorveu à sua maneira não será esquecida. Será ela, que nos dará forças para enfrentar as vicissitudes da vida.

A passagem do Papa Bento XVI por Lisboa, mudou a visão que tinha, ou melhor, que não tinha por ele. Ao contrário do que a comunicação social fez-nos chegar, o Santo Padre é uma pessoa bastante afável. Bastou o ver a comunicar, a acenar, a sorrir para o povo. Vimos um Papa emocionado, com sentido de humor e próximo das pessoas. Trouxe a Portugal, várias mensagens. Não só para o povo cristão, mas também para o de outras religiões. Mas a que vai marcar foi a mensagem corajosa transmitida para o próprio interior da Igreja. Isto é complicado de explicar, mas, independentemente de concordar ou não com tudo o que possa dizer, sinto que ganhei um Papa. Desde a morte de João Paulo II existia um vazio, que começou agora a ser preenchido. E estou feliz por isso.

2 comentários:

  1. Sinceramente.....fiquei sem palavras!!!! O MEU PAPA sempre foi João Paulo II que considerava Cristo na Terra! Agora não sei que pensar, pois como católica custava-me a acreditar que Deus tivesse deixado eleger um PAPA que nada dissesse à Igreja Catõlica!!Não fui a Lx, mas o ke contaste e passaste foi o mesmo que eu passeí à anos no Parque Eduardo Sétimo aquando da vinda do Santo padre João Paulo II e tb eu faltei aqo serviço pois não houve tolerancia! Mas segui todo o dia das cerimónias de Fátima, enão pude deixar de pensar se não estaria enganada com a pessoa que a câmara focava em grande plano! As suasfeições não enganavam! Enfim como alguem disse cada um tem o seu Tempo! João Paulo II ja teve o dele e viveu-o deixando Grandes Marcas dentro do coração dos CATÓLICOS! Bento XVI está a ter o seu tempo, e como será para nós a sua passagem, ainda o não podemos avaliar! Isso só Deus o dirá. De qualquer modo um obrigado por teres partilhado esse dia! Um beijinho Maria

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  2. Obrigado eu, não só por ter lido a minha experiência, como também ter partilhado o seu pensamento aqui. Gostei de ler :-))
    Beijinho :-)

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