terça-feira, 25 de outubro de 2011

Espirito de Natal v Consumismo Natalicio

Estamos em Outubro. Fins de Outubro. Para mim, é normal começar a pensar já no Natal, devido à “construção” do presépio. Há que projectar e arranjar material necessário para a sua feitura. Ao contrário de outros anos, neste, não estou só… pela pior razão.
Este ano, quem trabalha, não vai receber por inteiro o subsídio de Natal. E para os próximos dois anos, os funcionários públicos, nem sequer vão ver um tostão. Como é óbvio, não me congratulo com tal medida, mas não vou entrar no campo político.

Como disse atrás, este ano, tenho a companhia de um país a pensar já no Natal. Mas o que leio, o que ouço entristece minha alma. Vários foram os textos, comentários que me fizeram escrever este post. É triste ouvir dizer “Este ano, não há Natal”.
O que é o Natal!? Está visto que para muitos, Natal, é o corre-corre na baixa de sua cidade, os encontrões nos centros comerciais, as prendas para todos e mais alguns, até se gastar o último cêntimo do subsídio de Natal, ordenado e atingir o limite máximo de crédito do cartão. É um Natal de consumo, de despesismo puro e duro.
Nem sequer vou entrar no campo da religião. Cada um tem a sua, mas como povo de educação cristã, que somos, até fica mal pensarmos assim. Contudo, não é coisa que me surpreenda, visto, a sociedade de hoje, girar em torno de dinheiro, longe de princípios, de valores, de cultura.

A Haver prendas, deveriam ser só para as crianças. O pior, é que estas, estão mal habituadas e não se contentam com uma tablete de chocolate ou um carrinho/boneca qualquer. Mas a culpa é dos pais, que os educaram assim. Passaram anos a oferecer tudo e mais alguma coisa, não tendo sequer a criança tempo para brincar com todas as ofertas. Agora, que não têm dinheiro para lhes comprar o último modelo de consola de jogos, telemóvel, computador, ou uma simples boneca que fala, come e faz necessidades ou um carrinho que anda sozinho, dizem “Este ano não há Natal”. Quantas crianças no mundo, senhores, não sabem o que é uma prenda e nem por isso deixam de viver o Natal? Parem e pensem…

Natal não é “Leopoldina”, “Popota”, nem sequer o “Pai Natal”, histórias de encantar, atracções ao consumo.
Natal não é abundância na mesa, comer num dia, o que dava para uma semana.
Natal não é o que os outros pensam que somos por oferecer ou não um presente, mas sim o que somos na realidade com ou sem prendas.
Muitas pessoas estavam habituadas a viver o Natal assim – prendas a perder de vista e mesa farta. Mas tem de ser assim!? Mesmo que para muitos, isto seja o Natal, podem o fazer com contenção e não dizer apressadamente “Este ano, não há Natal”. Só porque não vai haver prenda para a vizinha com quem mal se fala, não conseguir dar ao filho o que deseja, ao amor de sua vida uma jóia ou o ultimo brinquedo tecnológico, não colocar na mesa dez tipos de doces e três de pratos quentes e frios… “Este ano não há Natal”!?

Natal é um estado de alma, espírito de festa familiar de amizade e compaixão. De solidariedade com quem menos tem. E por isso se diz e bem “Natal devia ser todo o ano”. É isto que é o NATAL. Prendinhas, enfeites, luzinhas, são pormenores que ultrapassam em muito este espírito. Concordo, que servem para alegrar, para tornar diferente a festividade, mas… BOLAS! PODE-SE VIVER SEM ISSO. PODE E DEVE HAVER NATAL SEM CONSUMISMO.

Este vai ser o meu segundo Natal sem respectivo subsídio – Sim! Não me pagam… Como podem ver, já levo dois anos de avanço no campeonato de Não_receber_subsidio_de_Natal. E em minha casa, há e haverá sempre Natal. Para haver Natal, basta, tão só, ter a família reunida e sentada à mesa, pouco importando o que se come, absorver seu calor, amor fraterno. Basta o amigo, nos desejar “Boas Festas”, sendo a melhor prenda, sua amizade.
Sei que não é fácil fugir ao ritmo natalício-consumista com que o Mundo nos brinda. Também me sinto feliz ao oferecer prendas e brindar quem gosto. Mas se a situação assim o não permitir, sou directo, digo não haver prendas para ninguém. Não invento, nem vivo situações financeiras que não correspondem à realidade e não direi “Este ano, não há Natal”.
Por mim, pode haver campanhas publicitárias referentes ao Natal, as ruas podem-se iluminar e lojas enfeitar. Pode soar bem alto a “Noite Feliz” que escutarei com mesma emoção de sempre. O coro de Santo Amaro de Oeiras pode cantar “A todos um Bom Natal”, que acompanharei seu refrão… Escreverei, com minhas sobrinhas a carta ao Pai Natal, mesmo que não venham a receber o que tanto desejam, explicando depois porquê que não receberam o que mais desejaram, se não o receberem ou porquê que só receberam aquela prenda…

O “Pai Natal” pode até nem vir, mas o menino Jesus, há-de trazer alegria, paz e saúde no sapatinho de todos aqueles, que, como eu, acreditam, que o Natal é muito mais que consumo.

Boas Festas.

domingo, 9 de outubro de 2011

Vida em Flor

Amava as flores como ninguém. Homem do campo, cedo aprendeu a viver com elas. Costumava acompanhar seu pai à estufa onde trabalhava. Ai, vi-as crescer. Sua mãe, vendia-as na praça. “Banca da Rosa” – era assim que se chamava e ali, passara grande parte da juventude. Primeiro a ver a mãe trabalhar, mais tarde, com o passar dos anos, na ajuda das tarefas. Se por um lado ficava feliz por cada venda efectuada, por outro, combatia a tristeza de as ver partir, pensando Iriam fazer alguém feliz.
Morava na casa que idealizou. Espaço suficiente para si, para os seus e para construir canteiros. Sim! Para ele, as flores deveriam sempre morar em canteiros. Acto de as trazer para dentro de casa, era sinónimo de tortura. Relógio em contagem decrescente para definharem. Sua Flor tinha o direito de nascer, crescer, viver e morrer junto às de sua espécie ou de parentes próximos. Cortar-lhe o caule era tirar-lhe vida e a separar dos seus pares.
Do trabalho não se queixava. Era jardineiro. Cuidava e tratava dos jardins do município. Gostava da sua responsabilidade e ficava vaidoso, sempre que ouvia piropos aos “seus” jardins. Ficava preocupado em cada intempérie. Fosse chuva ou sol a mais, rezava para que todas se safassem. O que nem sempre acontecia… E chorava…
Tinha um casamento feliz, de onde nascera um lindo rebento. Mulher e filha partilhavam do mesmo gosto, não tinham ciúmes. Lá em casa, todos falavam com as flores e com as plantas. E eram correspondidos. Linguagem, gestos doces delicados que só quem as ama percebia.
Mais que ambicionar, desejava concretizar um sonho – alargar seu jardim, mais um canteiro. Não sabia ao certo o que plantar. De todas as sementes, Deus haveria de escolher. Não a melhor, mas a essencial para se juntar às outras. E confiava na sua escolha. Sabia apenas que queria a casa rodeada de flores. Já tinha algumas, verdade, mas queria mais.
Num dia de felicidade, como qualquer outro dia de sua vida, meteu-se ao trabalho com ajuda de sua amada. Já tinham semeado antes e cada novo dia que o faziam, maior era a convicção. Alguma ou algumas daquelas sementes haviam de brotar. Bastava regar com amor, seu dilema e segredo para as fazer florir.
E todo o dia, assim regava… via e analisava seu crescimento. Uma coisa era já certa – estava a brotar algo. O contentamento era de tal modo, que parecia criança em véspera de Natal. Sabia que estava a nascer, mas não sabia bem o quê. Pensou como seria sua vida quando florisse. É certo que iria mudar. Não só sua vida, como a de todos naquela casa. Comprou livros sobre o assunto, manteve-se informado ao mínimo pormenor. Era a redoma que garantia a segurança da frágil semente a germinar.
Não passava dia, semana, mês, sem ver como crescia. Andava ansioso. Finalmente iria ampliar seu jardim. Seria sempre primavera em flor. Aromas naturais espalhados pelas divisões, frescura da natureza, cores de vida presente habitando sua casa.
E nasceu…
Nasceu, passados nove meses, Margarida, filha de Perpétua e Jasmim, irmã de Dália. Bouquet irradiando Inocência, Para Sempre, Bondade e Amabilidade, União e Delicadeza. Pétalas florescendo no campo que é a vida. Sentiam-se abençoados. Família de Amor-Perfeito, Nenúfar de afecto.