terça-feira, 28 de junho de 2011

Um Alfacinha no S. João

A Curiosidade era grande. Duvidava, talvez, ainda, que a festa assim se desenrolara. O que sabia era o que tinha visto, de outros anos, na televisão. E o que me contavam… E as marteladas que me prometiam.
A verdade é que a noite de S. João no Porto, é única. Por mais que se conte, por mais que se veja imagens, só visto, sentido, vivido é que se percebe sua grandeza.
Durante o dia, reina já um ambiente de festa, o manjerico perfuma as principais ruas, os foliões abastecem-se da arma oficial que é o martelo de S. João – grandes, pequenos, gigantes, insufláveis… Os mais tradicionalistas recorrem ao simpático alho-porro.
Há quem faça a Cascata. Consegui ver uma, com pena de não ter conseguido ver mais. Não foi por falta de as procurar… os pés que o digam.
O Bairro Herculano é digno de visita. Todo emproado para a festividade. Duvido que haja outro bairro no Porto igual. Ali respira-se o verdadeiro S. João. Adorei conhecer aquele cantinho.
Ao passar das horas, o cheiro a sardinha percorre avenidas, ruas e ruelas. Todos os caminhos desencadeiam no rio. Suas margens enchem-se de povo. Ouvem-se desgarradas, soltam-se balões, tiram-se fotos, dão-se e recebe-se martelada e alho-porro a cheirar. Espera-se pelo fogo-de-artifício, orquestrado por músicas que apelam ao orgulho da cidade.
São milhares as pessoas, que se associam à festa. Não sei se é proeza ou não de S. João, mas quantos Santos conseguem juntar várias etnias, vários estatutos sociais, várias classes numa só festa? E juntos conseguem-na fazer. Partilham-se marteladas, como se de um cumprimento de “Bom S. João” se tratasse, percorrem-se ruas, que, em outras alturas do ano se calhar evitam-se. Uma noite, tão só…
Diz a tradição que se deve percorrer a Ribeira até à Foz. Fiquei pela metade (ou pouco mais), que a noite já ia longa e os pés já tinham caminhado e bem durante o dia.
Diz a tradição que nessa noite cai orvalhada, associando-a à fertilidade. Não sei se foi só culpa de S. Pedro que nos brindou com uma noite bastante agradável ou se também foram as meninas que andaram a rezar para que a orvalhada não viesse. E assim não aconteceu.
Após o fogo-de-artifício, é um “ver se te avias”. Anda todo um povo caminhando “desnorteado”, procurando os vários largos onde exista bailarico e mais um pouso para beber e comer. Engraçado, que, e apesar de haver conjuntos musicais, pouca gente vi a dar um pezinho de dança. Mais importante era martelar, conversar, conviver e andar, andar e andar... E havia gente que não deixava escapar uma só cabeça, como fosse um jogo e ganhassem pontos.
Pessoalmente, se bem me lembro, só dei com o martelo, em quem conhecia, e mesmo assim… Estava mais interessado a “beber” culturalmente a festa. Dei por mim, em certa altura, a baixar a cabeça, para uma criança dar-me com o martelo. Não sei quem era... pouco importava. Havia estrangeiros, mais perplexos que eu, o que não deixa de ser natural. “Em meninas, nem com uma flor se bate” e queriam que batesse com um martelo, mesmo sabendo que não magoava. Para “alfacinha” como eu, era uma situação muito estranha mesmo, mas muito divertida, sem dúvida.
Tão ou mais divertido é soltar, fazer levantar um Balão de S. João. É lindo ver todo um céu cheio dos ditos. E se o balão não voar, não levantar voo como se quer, não é preciso chorar, pois transforma-se em fogueira que, também dita a tradição, devemos saltar.
Nos dias seguintes ainda pude assistir à Regata de Barcos Rabelo e a algumas Rusgas nos Aliados. Pena não serem mais divulgadas. Com elas aprende-se mais alguma coisa acerca dos bairros que dão vida e originaram/originam esta cidade, que é o Porto.
E todo o Largo, toda a praça é sítio de festa. Roulottes de comes e bebes, carrinhos de choque, diversos tipos de carrocéis, casa fantasma, banquinhas de tiro ao alvo, vários tipos de diversão que me fizeram lembrar a saudosa Feira Popular de Lisboa. Ah! E farturas… Farturas por todo o lado, todo um mundo de farturas… Pena usarem açúcar em pó, mas é só um pormenor.
Foi o meu primeiro S. João. E tal, não seria possível, sem uma, muito, agradável companhia.

Obrigado Isabel, Maria, Ana, Miguel e Arlindo por este fantástico S. João


Para o ano estamos lá? :-))

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Ribeiro

Ribeiro …
Água cristalina
Puro néctar.
Desces vales, serras
Encostas,
Deslizas, passeias
Na verde essência
Sob azul do céu.
Dás vida
Aos rios, mares, oceanos
E ao Ser que te saboreia.
Dás vida às plantas
Que regas alimentas
Aos animais que em ti
Matam sede.
Ribeiro…
Dás vida a mim
Que acompanho
Correndo tuas margens.
Que bebo
Cada gota
De teu respirar.
Que miro, parando
Beleza de teu caminhar,
Fechando olhos
Escuto teu cantar
Ao passar.
Banho-me em teu corpo
Rejuvenesço alma
Solitária, perdida.
Ribeiro…
Choro vagueando
Respirando fundo
Ao mal que te
Destrói.
Choro por dentro
Gritando, lutando
Contra poluição
Que contamina tuas águas.
Ribeiro…
Quero sorrir,
Pular, cantar.
Quero chorar…
Olhando brilho
De tuas águas
Percorrendo límpidas
Da nascente à Foz.
Quero beber, saborear
Banhar-me
Em tuas águas
Livremente
Sem secares…
Sem morrermos precocemente…
Sem viver
Nem Amar.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Vem brincar comigo

Vem brincar comigo…
Saltar eixo
Macaca, corda
Que teima em prender-se no pé.
Vem brincar comigo…
Policia ladrão
Cowboy índio
Corre, foge
Apanha
Prende-me.
Vem brincar comigo…
Desenhar, rabiscar
Casa de sonho
Carro futurista
E um sol com rosto.
Vem brincar comigo…
Mil cores
Lápis de cor,
Cera, carvão
Canetas de feltro
Quadro de giz
Aguarelas.
Vem brincar comigo…
Papel de lustro
Branco, vegetal
Cartolina, seda
Construir
Pintar o Mundo.
Bonecos, bonecas
Peluches, Heróis
Plantas, Bichos
Estranhos Seres
Com que
Sem medo
Preenchemos Mundo.
Jogos, pista
Damas, xadrez
Monopólio, Risco
Charada, adivinha
Brincar, enfrentar
Níveis, atalhos
Dificultar, exigir
Questionar
Mais do Mundo.
Vem brincar comigo…
“ Ao quero ser
Quando crescer…”
Médico, enfermeiro
Bombeiro, cozinheiro
Cientista, gestor
Pai, Mãe
Neto, Avô
Trolha, soldado
Príncipe, ladrão
Tudo sem saber
Que vamos ser
Nossa Vocação.
Vem brincar comigo…
Imagina o que não és.
Dá-me tua mão…
Como se fossemos
Crianças… ainda.
Sem Conhecer,
Desconfiar, Imaginar
Este nosso Mundo…
Adulto!
Não deixes de ser criança
E Vem brincar comigo.