segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Tempo (carta aberta)

Tempo!...
Porque corres quando campos ficam em flor, pássaros regressam fazendo ninho, quando crianças se refugiam em brincadeiras fugindo da dura vida dos adultos!?
Para onde vais!? Qual a pressa de separar quem ama e vê em ti obstáculo. Porque não páras tu quando a felicidade está presente, quando a alegria reina a vida!? Porque cortas tu esse bem-estar!?
Tempo!...
Porque corres lentamente quando a agonia e a infelicidade reina!? Quando lágrimas brotam de olhos inchados e deslizam pelo rosto caindo no vazio, quando a vida é feita de desgraça, não fazendo sentido...
Tempo!...
Corre depressa quando a saudade precisa de ti para a matar. Corre! Não pares quando a separação é o dia-a-dia e precisa de ti para se encontrar. Corre! Corre! Velozmente que alguém precisa de ti para amar.
Tempo!...
Quem controla teu mecanismo dispensando o "pause" nos momentos de paixão... Não carrega no "Forward" quando não fazes qualquer sentido e se quer que passes à frente… Quando o "Stop" deveria ser accionado perante uma briga, guerra ou conflito…
Tempo!...
Pára!... Não te movas! Deixa o que é belo fazer escola. Deixa descansar quem necessita recuperar forças, deixa quem se abraça sentir prazer do gesto, deixa que o beijo se prolongue eternamente… não deixes a despedida acontecer.
Tempo!...
Dá vida eterna a quem ama e deixa teus ponteiros descansar, deixa grão de areia na ampulheta não cair, guarda as badaladas que não se querem escutar…
Corre! Dá corda, adianta ponteiros, solta badaladas, faz de uma só vez cair grãos de areia diminuindo distâncias, diminuindo ausências de afectos ultrapassando maus momentos que não ficam para a história. Quebra rotinas sem sentido, brota sensações positivas nesse espaço.
Tempo! Acredita ser capaz. Acredita que o mundo é bem melhor se souberes contemplar quem de ti precisa para amar e fazer o bem.
Tempo! Que estou para aqui a dizer!?... Porque te culpo eu, quando somos nós quem te controlamos...
Quando devia estar a dizer a alguém o que sinto e perco-me aqui escrevendo-te… em vão.
Tempo, Escuta!... Não te dou mais atenção. Parado ou a correr, garantirei que cada teu segundo, grão de areia, badalada valha a pena.
Tempo!... É tempo de Amar
É tempo de Viver...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Linhas paralelas

Segue…
E nele segue.
Linhas paralelas
Destino definido.
Paragens intermédias
Pausas intermináveis.
Atravessa rios,
Pontes de duas almas
E um só fado
Sobe, desce serras.
Corta campos, terriolas a meio.
Postes, casas, árvores
Tudo para trás
Como se andassem em sentido contrário da vida.
Só ele vai bem… (sensação!...)
Direccionado à presença
Cujo nome é estação, apeadeiro final.
E segue...
Coração!
Máquina humana
Sem descarrilar, segue…
Acelera no caminho da certeza
Trava em caminhos incertos.
Mas não pára.
Não pode parar… atrofiar, morrer.
Horário cumprido
É o matar d`ansiedade
Chegar ao destino
É o aniquilar da saudade.
Culminar da viagem
Abraço, beijo dado
Palavras trocadas
Em sorridente silêncio.

Segue…
E nele regressa
Linhas paralelas
Afastando-se da vida
Onde mora felicidade.
Apita na despedida
Gritando, aumentando saudade
Lágrima nos olhos… segue.
Linha paralela
Afasta, distancia…
Quem um dia há-de juntar.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Caminho

Caminho…
Trilho pegadas em fina areia
Entre dunas e mar agreste
Sol encoberto, aragem forte
Chicoteia corpo, fere alma.
Neptuno irado apaga rasto
Passos perdidos sem destino
Mente pesada, procurando paz
Extenso areal, reflexão
Sossego, silêncio, confissão.
Rebentação, salpicos salgados
Dá-me a mão, escuta palavras
Tempera o Ser
Faz-se luz.
Caminho…
Sol brilhante, bronzeia corpo
Vento ameno refresca alma
Gaivota perdida, encontra rumo
Veleiro solitário, atraca bom porto.
Mar calmo, sereia perdida
Trilhos seguidos, caminhos cruzados
Esperança esquecida, agora encontrada.
Caminho…
Junto ao mar…
Ouvindo seu cantar
Abraçando sua presença
E mesmo na sua ausência
Caminho de mão dada, suspirando
Acarinhado pelos deuses
Sigo corrente, nosso trilho
Até onde o vento nos levar
Permitindo sonhar,
Vivendo…