terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Mar entre rios

Lanço à água
Jangada de emoções
Ali, onde (ainda) mora Velho do Restelo
Onde choram corações
Partiram conquistadores.
Navego rio abaixo
Entro Mar dentro,
Onde ventos sopram
Caminhos de Deus.
Sigo corrente de saudade
Sigo Gaivota a teu Ser
Remo, iço vela
Sem nunca esmorecer.
Diz bússola das estrelas
Que Sol não deixa ver
Que sigo costa acima
E que nada há a temer.
Entro Foz dentro,
Navego rio teu
Barcas, Rabelos
Terra do Infante
Mentor, descobridor
Deste Douro, amor meu.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Ainda penso...

Faz hoje oito dias, o que ditou o atraso na chegada ao destino…
Uma viagem de comboio, de Alfa, igual a tantas outras. Não sei qual a probabilidade de acontecer, mas parece-me ser suficientemente grande dada as inúmeras vezes que é noticia.
Posso dizer, que não foi nada agradável, passar em sentido contrário e ver um lençol branco, estendido, junto à linha, já na berma, cobrindo aquilo que era mais do que evidente – um corpo, ou o que restara de um corpo, dado que pedaços do mesmo, ainda estavam espalhados ao longo da linha…
Dado o sítio onde ocorreu, presumi logo que tivesse sido suicídio.
Fiquei a pensar naquela situação durante o resto da viagem… e do dia… e ainda no dia seguinte. O desespero que pode assolar a cabeça de uma pessoa para enfrentar, como se de uma arena fosse, a força bruta de um animal. Mas neste caso, o “animal” era um Alfa. Só, o mais veloz dos comboios que circula naquela linha e em Portugal. Não consigo imaginar, se sentiu algum tipo de dor, dada a velocidade a que terá sido o embate… ou a rapidez com que lhe passou por cima. Nem sequer o desespero que a possa ter levado a uma loucura limite. Só consigo imaginar que é grande, enorme… fora de qualquer controlo.
Podia dizer que é, era preciso ter coragem para uma atitude daquelas. Mas isso era se estivesse no seu perfeito estado. Não acredito, que, quem comete suicídio, esteja de pleno equilíbrio mental e logo não há aqui, lugar a coragem. Só alguém que precisava de ajuda e não teve ou não foi suficiente.
E pensei em outra vítima – o maquinista. Que nada pode fazer, travar é impensável e desviar-se impossível. Resta-lhe fechar os olhos, abrandar após o embate e lutar contra possíveis traumas psicológicos. Só de pensar… Ainda penso… e já passou uma semana. E não sou o maquinista...

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Greve (também) ao Respeito e à Consideração

Vem aí mais uma greve nos transportes públicos – autocarros, barcos, metropolitano, comboio… nada escapa. Greve conjugada propositadamente para afectar a vida do comum cidadão que precisa se deslocar para o emprego, aulas, médico.
Há sempre a alternativa do “ir a pé” quando se pode e consegue, em viatura própria quando se tem ou de boleia, quando se consegue arranjar.
Quem precisa e quer trabalhar, de certeza que já arranjou maneira de se deslocar amanhã, contudo, esta situação não serve de desculpa para eu defender a greve da maneira que é/está a ser feita nos transportes públicos.
Podia evidenciar o transtorno, que dá a milhares de pessoas, fugir à rotina de frequentador de transporte público, os custos que terão – gasolina, portagens, estacionamento, táxi, o não receber por não poder trabalhar, dores de cabeça, o levantar mais cedo…
Serviços mínimos quando existentes, amenizam a situação, mas ficam sempre muito aquém… Ainda sou do tempo em que o Metropolitano de Lisboa colocava à disposição serviços alternativos para detentores do passe. Agora nem isso, uma tristeza, uma vergonha.

Há greves e maneiras de se fazer greve. Os defensores dizem que é assim mesmo – se não prejudicar ninguém, não vale a pena fazer greve. E é assim que se pensa. A greve só faz sentido, neste caso, se prejudicar a vida a milhares de portugueses. Eu defendo que não. Existe o direito à greve, mas existe também o respeito e o direito de quem paga um serviço.
Se invés de pararem 24 horas (ou quase), se unissem todos e por exemplo, não cobrassem bilhetes, abrissem as cancelas de acesso ao transporte, andassem com um simples autocolante na lapela “estou em greve”, reduzissem a oferta em determinado dia, só deixassem entrar quem passe tivesse… há milhentas maneiras de mostrar descontentamento e fazer greve. E não me venham com a “depois levava processo disciplinar”. A TODOS os trabalhadores!?, respondo eu…
Perguntem a outras classes profissionais como o fazem... Aprendam! Inovem!...

Parece que só querem conhecer este tipo de luta. É mais fácil não fazer nada, ficar em casa descansadinho, esquecendo-se que estão a prejudicar quem verdadeiramente lhes paga o salário – quem compra o passe e viaja regularmente. Sim! Não estão a prejudicar a entidade patronal, feitas as contas no fim do dia, se calhar até ganham…

Quantos destes senhores, que amanhã farão greve, mais os que a defendem neste molde, já se indignaram, já chamaram nomes, stressaram por terem pago um serviço e não obtiveram o retorno esperado. Umas horinhas sem Internet, sem televisão e sai logo critica a seu fornecedor de serviços. No cinema, quando o filme, está com quebras na imagem ou o som não está bom… Num restaurante, quando pagam e são mal servidos… Quando se paga a alguém para limpar a casa e depois pouco limpa…
Quando alguém compra o passe, está a pagar um serviço adiantado e quer ser bem servido. Um dia ou outro até podem compreender e deixar passar o atraso do transporte, a avaria… Mas PAGAR e NADA receber!? Quantos de vós, trabalhadores nos transportes públicos, estão dispostos a isso!?

Sempre aprendi que o respeitinho é muito bonito. E ganhavam mais, estes trabalhadores em luta, respeitando e tendo consideração por quem lhes paga o salário, do que ter estas atitudes de desprezo, olhando só e apenas, para seu umbigo.