domingo, 9 de outubro de 2011

Vida em Flor

Amava as flores como ninguém. Homem do campo, cedo aprendeu a viver com elas. Costumava acompanhar seu pai à estufa onde trabalhava. Ai, vi-as crescer. Sua mãe, vendia-as na praça. “Banca da Rosa” – era assim que se chamava e ali, passara grande parte da juventude. Primeiro a ver a mãe trabalhar, mais tarde, com o passar dos anos, na ajuda das tarefas. Se por um lado ficava feliz por cada venda efectuada, por outro, combatia a tristeza de as ver partir, pensando Iriam fazer alguém feliz.
Morava na casa que idealizou. Espaço suficiente para si, para os seus e para construir canteiros. Sim! Para ele, as flores deveriam sempre morar em canteiros. Acto de as trazer para dentro de casa, era sinónimo de tortura. Relógio em contagem decrescente para definharem. Sua Flor tinha o direito de nascer, crescer, viver e morrer junto às de sua espécie ou de parentes próximos. Cortar-lhe o caule era tirar-lhe vida e a separar dos seus pares.
Do trabalho não se queixava. Era jardineiro. Cuidava e tratava dos jardins do município. Gostava da sua responsabilidade e ficava vaidoso, sempre que ouvia piropos aos “seus” jardins. Ficava preocupado em cada intempérie. Fosse chuva ou sol a mais, rezava para que todas se safassem. O que nem sempre acontecia… E chorava…
Tinha um casamento feliz, de onde nascera um lindo rebento. Mulher e filha partilhavam do mesmo gosto, não tinham ciúmes. Lá em casa, todos falavam com as flores e com as plantas. E eram correspondidos. Linguagem, gestos doces delicados que só quem as ama percebia.
Mais que ambicionar, desejava concretizar um sonho – alargar seu jardim, mais um canteiro. Não sabia ao certo o que plantar. De todas as sementes, Deus haveria de escolher. Não a melhor, mas a essencial para se juntar às outras. E confiava na sua escolha. Sabia apenas que queria a casa rodeada de flores. Já tinha algumas, verdade, mas queria mais.
Num dia de felicidade, como qualquer outro dia de sua vida, meteu-se ao trabalho com ajuda de sua amada. Já tinham semeado antes e cada novo dia que o faziam, maior era a convicção. Alguma ou algumas daquelas sementes haviam de brotar. Bastava regar com amor, seu dilema e segredo para as fazer florir.
E todo o dia, assim regava… via e analisava seu crescimento. Uma coisa era já certa – estava a brotar algo. O contentamento era de tal modo, que parecia criança em véspera de Natal. Sabia que estava a nascer, mas não sabia bem o quê. Pensou como seria sua vida quando florisse. É certo que iria mudar. Não só sua vida, como a de todos naquela casa. Comprou livros sobre o assunto, manteve-se informado ao mínimo pormenor. Era a redoma que garantia a segurança da frágil semente a germinar.
Não passava dia, semana, mês, sem ver como crescia. Andava ansioso. Finalmente iria ampliar seu jardim. Seria sempre primavera em flor. Aromas naturais espalhados pelas divisões, frescura da natureza, cores de vida presente habitando sua casa.
E nasceu…
Nasceu, passados nove meses, Margarida, filha de Perpétua e Jasmim, irmã de Dália. Bouquet irradiando Inocência, Para Sempre, Bondade e Amabilidade, União e Delicadeza. Pétalas florescendo no campo que é a vida. Sentiam-se abençoados. Família de Amor-Perfeito, Nenúfar de afecto.

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