segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Vitiligo



'Uma doença que provoca manchas brancas'. Foi assim que definiram o Vitiligo, ontem, no Jornal da Noite da SIC. Não gosto de a denominar como 'doença', mas sim como 'problema'. Um problema do sistema imunitário, que não produz melanina suficiente para pigmentar a pele. Daí a despigmentação - aquilo a que chamam manchas brancas. A melanina é a substância que todos nós produzimos e que dá cor à nossa pele. Quando o nosso sistema imunitário não produz a suficiente, não pigmenta, ou seja, não dá cor e a pele fica ‘branca’.  
Como referi, não gosto de chamar ao Vitiligo, uma doença. Não causa dor nem comichão, não se transmite de pessoa para pessoa e também não está provado ser hereditário, apesar de existir pré-disposição. Quer isto dizer, que se existirem problemas de pele em familiares, mesmo não passando pelo Vitiligo, a probabilidade de se ter torna-se maior. Portanto, o único inconveniente, é mesmo, a nível estético. Raros são os casos de reversão total das manchas, pois não existe remédio, vacina, tratamento para a sua cura. Em alguns, poucos, casos pode regredir, mas na maioria dos casos estagna por uns tempos e/ou continua a avançar. Geralmente receitam pomadas que custam um balúrdio. Só para terem a noção, há uns bons anos atrás, o preço de uma bisnaga rondava os noventa euros - e sem comparticipação, como todas estas pomadas. Existem também uns comprimidos que fazem activar a melanina e neste caso, o mais provável, é continuar-se com as manchas e o resto do corpo acentuar a cor. No meu caso, fiquei cor de laranja. Há também a fototerapia. Deste tipo de tratamento, não tenho experiência. Ainda espero que me chamem do hospital para iniciar o tratamento. Não posso precisar a última vez que fui à consulta de dermatologia, mas certamente há mais de 6 anos. Nunca me chamaram e eu também não me chateei com isso. Sim! Desisti! Ao fim de anos a gastar rios de dinheiro, especialmente em pomadas, cujo resultado foi praticamente nenhum. Não sei se a estagnação do alastramento se deveu às ditas pomadas ou simplesmente porque assim aconteceu.
Mas desisti. Toda a vez que saía da consulta, de receita na mão, era uma esperança acrescida e por isso, nunca me importei de gastar aquele dinheiro todo. Esperança, que diluía no tempo, à medida que os dias iam passando e o desânimo aumentava para depois vir nova pomada e nova esperança... fugi! Esta montanha russa de animosidade  fez-me desistir. 
Cansei-me das falsas esperanças e muito mais do desânimo que me criava. Não sei se já teria os meus vinte anos, quando começaram a aparecer as primeiras manchas e nesta idade, se para alguns o acne é o maior problema do Mundo, imaginem ter manchas no rosto. E aqui reside o maior problema do Vitiligo - o psicológico. Num mundo, onde cada vez se dá maior importância ao factor estético, onde a beleza está definida num estereótipo de perfeição, um jovem que é confrontado com este problema pode com muita facilidade entrar em depressão. Penso que, psicologicamente, me aguentei bem... Fingi não me importar, quando a verdade era outra. Escondi-me em alturas mais sensíveis para não ser confrontado. Mas regra geral, safei-me sem a necessidade de apoio psicológico ou de tomar qualquer outro tipo de drogas. Talvez devido aos anos de falsas esperanças. Depois... Aprendi a viver com isto. Lembro-me nas pesquisas que fiz, de ler um estudo brasileiro acerca do Vitiligo e a taxa de suicídio nos jovens era assustadoramente alta. Quando as manchas surgem em partes do corpo que geralmente estão cobertas, a importância nem é grande. Mas quando começam a aparecer no rosto... Não é fácil andar na rua e ver as pessoas a olharem de lado para um rosto manchado ou quando estendemos o braço para cumprimentar e a pessoa fica indecisa a olhar para a nossa mão e a aperta a medo. Com o passar do tempo, percebemos que não é por mal, mas simples ignorância originada por falta de informação. 
Todo o Mundo sabe, que Michael Jackson tinha a pele escura e um dia apareceu branco. Chamaram-lhe racista, fizeram chacota e mil e uma anedota acerca disso. Mas certamente, poucos sabem que tinha Vitiligo. E uma das soluções, quando a zona manchada é maior que a normal é a despigmentação total. Se a pigmentação é quase impossível, já a despigmentação é mais fácil, apesar de não garantir a 100% a mesma tonalidade em todas as zonas. Com a despigmentação da pele, ausência de melanina, a pele fica mais desprotegida e sensível à luz solar e raios ultra-violeta. Uma das recomendações médicas  a quem tem Vitiligo é usar sempre protector solar, todo ano, e não só quando vai à praia. Por isso, Michael Jackson, depois de ter feito a despigmentação protegia-se, quase que de uma maneira obcecada, do sol. 
Veio este tema, devido à reportagem de uma rapariga que quer fazer a diferença no mundo da moda por ter Vitiligo. Sem dúvida que é um exemplo para todos aqueles jovens que têm o mesmo problema. Muito mais, quando se tem a pele escura. No meu caso, tenho a pele bastante clara e as manchas só se fazem notar mais no Verão. No resto do ano, nota-se em algumas zonas do corpo, pois onde não há pigmentação, também os pelos ficam brancos.
Com mais de 18 anos de vida com isto, conto pelos dedos de uma mão, as pessoas que me perguntaram o que eram estas manchas que apresentava. Pode ter sido por vergonha de perguntar ou por indiferença (no bom sentido) mesmo, mas hoje, ao lerem isto, vão exclamar 'Ah! Então aquelas manchas é Vitiligo', outras ficam a saber, o que realmente é. E assim, a vida continua. 
Não vejo o Vitiligo como doença pois não me sinto, nem nunca me senti doente com isto. Vejo-o como um problema... Um problema que é preciso aceitar e saber lidar psicologicamente com ele. 
Dizem que em Cuba, existe um tratamento com grande probabilidade de cura. 
Não sei até que ponto é verdade ou meia verdade. Existem opiniões para todos os gostos. Por mim, continuarei sem saber a real resposta. Já tive a minha dose de dermatologistas e de momento, não penso em voltar tão cedo às consultas. A vida continua... Mas nunca nos esquecemos da sua presença.

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