Cresci a ler banda desenhada, ainda do tempo em que os
"gibes" vinham do outro lado do Atlântico e "falavam"
português do Brasil. Cresci com a turminha da Mônica do Maurício e com o Mickey
e restante família do Walt Disney. Era um sonho folhear os livrinhos e ver
aquele Mundo, cuja imagem de um castelo ficava bem longe, na altura, de Paris.
Passaram muitos anos e eu e a Isabel, concretizámos esse sonho.
Poder viver por uns dias nesse mundo que dizem ser de fantasia, mas que não
deixa de ser bem real. Um Mundo, onde o sorriso é predominante e a alegria
contagiante entre as mais diversas etnias, raças, culturas ou religiões. Onde
os adultos não são enxovalhados por partilharem da mesma alegria das crianças e
os deficientes vêem naquele espaço um mundo perfeito de acessibilidades.
Ali, todos têm a mesma idade - a idade de sonhar.
É como um sonho, mas de olhos abertos. Passearmos pela rua e
constatarmos que aquelas figuras, com quem crescemos, existem mesmo. Observar,
ver, tocar, abraçar cada uma delas e num segundo cair qualquer dúvida que se
tenha de sua real existência. Aparentam ser como nos livros. Mexem-se como na
televisão ou no cinema e agem como os conhecemos e caracterizamos. São mesmo
eles? Deixam de ser as figuras, para serem como um de nós. Ver e sentir de
perto o seu afecto por nós, que os admiramos, ser maior que muito ser humano
com quem lidamos diariamente.
Saber que Peter Pan existe mesmo e que está feliz junto da Wendy
e que até se dá bem com o Capitão Gancho, onde a rivalidade só existe no écran.
Ver Gepeto de mão dada com o Pinóquio, como um avô passeia com seu neto. O Tico
e o Teco a fazerem das suas diabruras... Assistir à presença do Mickey, no
fecho do parque, como excelente anfitrião que é, despedindo-se e agradecendo a
todos os seus amiguinhos... Princesas e príncipes de encantar independentemente
de seu reino... Heróis e vilões de brincadeirinha.
Ali, tudo é mágico. Um pequeno mundo perfeito onde é difícil não
ficar emocionado e tão difícil exprimir em palavras todo o sentimento de
alegria que ali se vive.
Um Mundo bem
real. Ao sair dele no último dia, não consegui olhar para trás, como se fosse
uma última vez. Seria o descalabro emocional que tinha tentado controlar
durante aquele tempo que ali vivi, de plena felicidade. Poder estar no meu
Mundo, sem estar de olhos fechados e acordar para um outro, que nunca foi o meu.