Manuel Barbeiro. É este seu nome. Adquirido como tantos outros no tempo em que alcunhas se tornavam apelidos. Seu pai foi barbeiro de profissão e ele próprio, conta, também o foi durante 40 anos, dos 86 que carrega. 40 anos de barbeiro, mas muitos mais de artesão figurinista.
Leva-nos a ver suas peças. Vejo e concluo que no meu presépio tenho peças de sua autoria, que desconhecia. Já antes tínhamos estado em casa de outros artesãos onde pude constatar o mesmo. As figuras, que ano após ano, desembrulho e coloco em cena constituindo o presépio, começam a ganhar um pai, uma história. Rostos cujas rugas não deixam esconder a idade. Memórias, que irão sempre acompanha-las.
Manuel Barbeiro, não parou de sorrir desde que abriu a porta de sua casa. Ali, em Galegos (Santa Maria), freguesia de Barcelos, terra de oleiros e artesãos, onde nasceu o Galo de Barcelos, as casas de habitação confundem-se com as oficinas. Um dois em um. Manuel conta um pouco de sua história, de sua vida. Do desgosto pelo filho não ter seguido o mesmo caminho, apesar de ter jeito para a 'coisa'. Da alegria de lhe terem batido à porta duas japonesas, que queriam conhecer o autor de uma exposição que tinham visto em Lisboa.
Manuel dedica-se agora às procissões. A maior terá 80 peças e trabalho não lhe falta.
Ficámos de falar em Março, para ver quando poderá fazer a nossa procissão.
Manuel Barbeiro, educado, agradeceu a visita. Saímos em silêncio e quando chegámos ao carro, nosso pensamento foi igual - Será que viverá o tempo suficiente para fazer nossa encomenda? Não sabemos! Mas independentemente de tudo, já tinha valido a pena. A imagem daquele sorriso com 86 anos já ninguém nos tirava.
Estávamos em Novembro.
Como tinha sido combinado, em Março ligámos. Associou logo o telefonema ao 'casal do Porto' e ficámos de ir buscar nossa encomenda nesse mesmo dia, depois do almoço. Já estava pronta, para grande surpresa nossa.
Um senhor, como já existem poucos. Recebeu-nos novamente com a mesma simpatia. Mais dois dedos de conversa, mais histórias que trazemos e que não têm preço.
A 'procissão' já estava acondicionada e devidamente encaixotada. E sem a vermos, confiámos, tal como Manuel tinha confiado em nós sem pedir qualquer adiantamento, e pagámos aquilo que achámos justo. Manuel sorriu.
Pouco depois estávamos de saída. Levou-nos à porta e agradeceu, como nós também agradecemos.
"E qualquer coisa que não esteja bem, voltem, que eu troco..."
Apetecia voltar. "86 anos e nunca enganei ninguém". E assim continua... Um senhor de palavra, como há poucos.
Talvez voltemos um dia, não para reclamar, mas para mostrar suas figuras expostas em nossa casa. De certeza que gostará.
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