quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Bola de Sabão

Desmontei uma caneta. Daquelas, antigas, que formam um tubo perfeito para a ocasião quando desmontada. Juntei sabão à água e molhei sua ponta. Tirei-a da mistura e soprei, soprei… Soprei até me ver envolvido numa bola de sabão. Tinha feito o meu Mundo e nele habitava todo aquele que me estava no coração.

Dentro da bola de sabão reinava a calma, a paz, o silencio… Como se fosse um sonho. Nas suas paredes via constantemente as cores do arco-íris. As sete entrelaçavam-se entre si dando origem a todas as outras. O céu era azul com padrão branco nuvem, os campos eram pintados de todas as tonalidades de verde, manchados pela cor de cada flor. Belas! Eram tantas! Espalhando seu perfume pelo ar… Inspirava aquele aroma, meu oxigénio dentro da bolha. O Mar, ondulava ao ritmo da dança de seus habitantes cuja música era seu rebentar. Límpido, sereno, meu habitat onde mergulhava e convivia com seres de outra espécie.

Stress era palavra que não constava no idioma falado, escrito… Nem medo, nem discriminação, nem adjectivos eram utilizados em comparações. Cada qual era como era… Todos tinham uma função, todos eram importantes, todos faziam falta ou talvez não. Ninguém dependia de ninguém, cada um sabia sua responsabilidade, sem necessidade de a mandar ou fazer cumprir horário.

O Sol, a Lua, as estrelas, guiavam o dia. Harmonia entre o Ser e a Natureza permitia usufruir de algo que não era o Paraíso, mas estava perto. Serras, vales, montes, mares, florestas invioláveis num postal ilustrado que era a Bolha. O poder instituído era o respeito. Nem direitas, nem esquerdas, nem centros, ditaduras, reinados. Subalternos existiam sim, mas fora da Bola de sabão.

Pássaros voavam cantando, pousando no ombro, oferecendo música ambiente ao dia. Sapos coaxavam nas poças da chuva avisando perigo. Borboletas, libelinhas, montavam espectáculo ao longo do caminho. Estações do ano, bem definidas e cada uma sabia exactamente a sua altura de brilhar e contemplar com sua magia.

A paixão pela vida era característica comum aos habitantes. O sorriso fazia parte essencial do dia, cura de todas as maleitas. O Amor era vivido para sempre, como nos contos de fadas. Não havia discussões, vida tão curta não permitia perder tempo… Energia era necessária para causas mais nobres.

Na Bola de sabão construi meu Mundo e nele quero viver. Sem barulhos que ferem ouvidos, cheiros nauseabundos que intoxicam própria alma, poluição que ganha terreno à própria vida, doenças que alastram tornando cada um em morto-vivo… Traições que aniquilam amizades em troca de lugares, carreiras, protagonismos…

Na Bola de sabão durmo, sonho, ACORDO!!!....
NÃÃÃÃÃOOOOO!!!... (Puuuff!!)
Abro os olhos para o mundo…
Nada é igual…
Mas tento viver…
Sobreviver…
Como se habitasse na bola de sabão.

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