Hoje voltei ao bairro onde passei vários momentos da minha
vida – o Bairro de Campo de Ourique.
Por ocasião de um almoço familiar, para comemorar o 13º. aniversário da minha sobrinha Beatriz, voltei ao bairro...
Voltei a cruzar o Jardim da Parada, onde tanta vez corri,
saltei, brinquei com meus irmãos e apanhei borboletas com as mãos, sem rede,
deixando-as voar de seguida. Lugar de encontro com meus avós, para o habitual
almoço semanal de sábado. Jardim, onde estava proibido de frequentar o parque
de brincadeiras, cuja areia servia também de urinol aos cães. Jardim, onde num banco sentados, minha tia
“Titita” imitava com a sua dentadura, um rugido de Leão faminto. Curiosamente,
o restaurante de hoje, foi na rua onde ela morava. Nessa rua, o barbeiro, onde
pela primeira vez na vida cortei o cabelo, continua a ser um barbeiro. A
pastelaria onde tanta vez tomei o pequeno-almoço com meus avós e tios, tem hoje
um novo conceito de cafetaria. O sinal de trânsito, onde bati com a cabeça por
ir a olhar para o chão, continua a existir. O ir a olhar para o chão, era um
hábito em Campo de Ourique por haver demasiado cócó de cão nos passeios.
Felizmente isso mudou.
Passaram muitos anos sem ali estar a observar aquele lugar.
Mais de vinte anos certamente. Há dois anos tinha por lá passado com a Isabel, mas de
passagem entre caches (Geocaching) e de uma ida ao “Melhor Bolo de Chocolate do
Mundo”. Gostei de ali voltar. Constatar que o Bairro que também me viu crescer,
está cheio de vida, onde o comércio tradicional ainda existe e concilia-se com
novos conceitos, novas lojas.
Talvez dos poucos jardins de Lisboa, onde os velhotes jogam
cartas, as crianças brincam, onde se pode almoçar ou tomar algo num quiosque,
que não destoa o espaço em si, onde se pode passear e até os patos, no seu
lago, conseguem sobreviver ao prato de alguém faminto. Um Jardim com árvores e
flores bem tratadas. Um verdadeiro Jardim público, onde há espaço para todos e até se consegue beber água de um bebedouro. O mesmo, de há vinte anos atrás.
Apeteceu-me por ali andar mais tempo e passear por aquelas ruas geometricamente construídas
entre paralelas e perpendiculares, formando ângulo de 90 graus em cada esquina.
A sapataria, onde me compraram algum calçado ainda existe. A Livraria, onde me
compraram vários livros escolares, álbuns do Mickey, do Ásterix, do Luky Luke por altura do aniversário,
onde minha Tia “Mana” comprou a minha primeira Enciclopédia Ilustrada, composta
por 5 volumes – um por ocasião (Aniversário, Natal) ainda resiste como
livraria. Ali, na envolvente do Jardim da Parada muita loja resistiu ao tempo.
Campo de Ourique, onde no Natal meus avós levavam-me à
extinta Maconde e onde só entrava quem tinha o cartão da loja. Bairro, onde
íamos ao mercado. E em Dezembro comprávamos o pinheiro de Natal. Defronte,
numa loja ainda existente, meu pai comprava a alpista para os pássaros. Já li
que o mercado tem hoje uma nova vida. Curioso por lá ir espreitar. Mais uma
razão para voltar.
O Bairro de Campo de Ourique, felizmente está longe dos
turistas, onde são os lisboetas e os habitantes de Lisboa que lhe dão vida.
Onde se pode andar na Calçada Portuguesa e onde não foi necessário pintar o
alcatrão da cor de um qualquer patrocinador para chamar gente. Nem livre trânsito a
bares, fechando ruas, para as transformar em “Bairro Alto” conspurcando ruas,
como fizeram noutros pontos da cidade.
Gostei de lá voltar… e também, de recordar, um pouco do meu
passado e do meu avô, cuja familia, era tudo.
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