terça-feira, 27 de março de 2012

Banda Desenhada


Nasci com a Banda Desenhada, como a maior parte das crianças de meu tempo. Com o passar dos anos, não me afastei, antes pelo contrário, sempre consegui arranjar espaço para eles, fazendo parte de meu Ser, de meu crescimento.
Maurício de Sousa, Walt Disney, Uderzo, René Goscinny, Morris, Quino e por ventura mais um ou outro que não me vem à memória.
Foi com estes autores/desenhadores que entrei no mundo da banda desenhada. Primeiramente com a “Turminha da Mónica” em português do Brasil, só mais tarde com o português de Portugal. Lembro-me na altura que foi um acontecimento, chegando mesmo a haver uma edição especial onde as personagens relatavam tal facto.
Identificava-me com o Cebolinha, não por estar apaixonado por uma dentuça como a Mónica, ou ser amigo de alguém que tem alergia à água como o Cascão e um porquinho de estimação. Mas sim, por trocar os “érres” pelos “éles”. Tinha ali alguém como eu, até a professora Guiomar, da primária, me ensinar alguns truques para corrigir essa troca. E eram esses truques os meus TPC`s. E eram esses truques que gostaria de ensinar ao Cebolinha, mas em vão… Continuou a ser meu amigo, e eu, mais que ninguém conseguia o ler sem grande dificuldade. 

É bom lembrar, que foi fantástico ter um pai também devorador de livros de quadradinhos. Havia sempre material novo em casa e Walt Disney estava sempre presente. As loucuras do Professor Pardal e seu ajudante Lampadinha, faziam também com que eu inventasse coisas sem sucesso algum e muito estrago, sendo meu irmão o Lampadinha – falava, mas não lhe ligava.
Na altura não se sonhava com o euromilhões, mas havia o Tio Patinhas com que todos sonhavam - nadar em dinheiro e ter a moedinha número um. Os primórdios do materialismo puro e duro ou os primeiros passos de se ser um tanto ou quanto liberal económico, em que tudo se podia comprar e/ou vender.
Havia o Gastão, o sortudo. Eu, era mais Pato Donald, aselha em tantas coisas e azarado em outras tantas, a sorte era para os outros, mesmo que eu a tivesse, achava que não. A bem dizer, era um Pateta, sem Glória. Bem podia comer feijões, mas nada de me transformar em Super-Pateta. Apesar que achar, que em certos momentos de minha vida, o cheguei a ser…
Achava um fascínio ao caipira Urtigão. Hoje sei o motivo – o querer, o gostar de alguma solidão e ser pouco dado à arte de socializar.
Não gostava da intromissão de certos personagens nos namoros entre Minnie e Mickey ou entre Donald e Margarida. O amor como hoje, era para ser respeitado.
Também havia coisas que me intrigavam como de onde surgiam os sobrinhos do Pato Donald!? E depois as sobrinhas de Margarida!? E Max, o filho do Pateta!? Havia, naquelas histórias, falta de personagens e meu sentido de organização começava a ficar baralhado.
Na luta de Mickey contra  Bafo-de-Onça ou contra Mancha-Negra, estava sempre do lado do bem, condenando o mal. Só descansava quando o Coronel Cintra os prendia, mesmo sabendo de antemão que haveriam de fugir, para que eu tivesse mais histórias para ler.
No Zé Carioca, penso que só mesmo o gosto por feijoada me identifica com ele. Sou doido por uma feijoada, mas ser alérgico ao trabalho e festarola como ele, não é comigo.
Há e haverá sempre uma coisa que não me conforma, que é o de não poder sentir o aroma das tartes da Vovô Donalda, mas aquele campo, aquela quinta atraia-me, talvez a qualidade de vida que um dia gostaria de ter.

A família já sabia o que eu desejava pelo Natal e nos aniversários – livros do Astérix  e de Luke Luke.
Eu que sou contra a violência, não ficava descansado enquanto um romano louco não levantasse os pés do chão ou uns piratas em qualquer oceano naufragassem. Uma aldeia onde os habitantes andavam às turras uns com os outros, mas que tinha um sentido de união único contra o invasor. Já a poção mágica não era por mim desejada, nunca fora de andar à bulha e beber mezinhas de druidas, bruxos ou feiticeiros também não é minha pratica. Quanto a comer javali, só o provei este ano, saborosa carne, mas meu organismo não conseguiria nunca comer um javali inteiro como Óbelix o faz, dai também não conseguir carregar menires. Mas tenho uma vantagem, consigo ser mais elegante, ainda…

Nunca consegui ver um filme do Velho Oeste. Detesto cowboys e Índios, mas ao Luke Luke não resisto. Lembro-me que cheguei a por o meu irmão a ver se eu conseguia ser mais rápido que a minha própria sombra. Uma vez disse-me que tinha conseguido, mas acho que foi só uma delicadeza para não me chamar de maluco e o deixar disponível para outras brincadeiras.
O ponto alto do Luke Luke e de grande vibração para mim, foi quando deixou de fumar. Como fiquei contente, não era para menos, sendo anti-tabagista, um dos meus personagens preferidos tinha deixado de fumar. Assim poderia gostar ainda mais dele.

A Mafaldinha já a conheci, com os primeiros pelos na cara, quando comecei a perceber alguma coisa de politica e do Mundo em geral. Facilmente me identifico com as questões que coloca do Mundo e da Humanidade e da sua visão nada positiva acerca dos mesmos. Mas acho de muito mau tom não gostar de sopa. Ai, não a consigo compreender. Acredito que era sua mãe, que não saberia a fazer como deve ser, pois se provasse a da minha, não diria odiar sopa. Ainda hoje dizem que tenho o cabelo à Manolito, quando o corto curtinho e fica em pé. Mas de resto e tirando a aptidão pela matemática, não encontro mais nenhum ponto em comum com ele.

São estes alguns dos personagens de B.D. com que cresci. São estes, os personagens de B.D. com os quais me consigo identificar em algo. Em suas histórias, aparecem alguns dos valores que defendo hoje em dia – União, Família, Amizade, Amor, companheirismo, justiça. Com todos eles, se aprendia algo, com humor à mistura. E é bom saber, que todos eles, ainda perduram, cabendo a nós, transmitir a uma nova geração o gozo que dá ler livros aos quadradinhos. Se a minha vida podia ser uma personagem de B.D? Não! Simplesmente porque ela já existe, dispersada em todas estas.  

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